domingo, 1 de setembro de 2013

FERREIRA GULLAR

photo Gilson Camargo

“Eu não posso decidir escrever um poema hoje à tarde. 
Não vai acontecer.
O poema, pelo menos no meu caso, nasce de um espanto, de uma descoberta inesperada. Às vezes, fico um ano inteiro sem escrever sequer um poema. Então, preciso dar tempo ao tempo até ter certeza de que o livro já tem um número suficiente de poemas ou de que o que ele expressa está de fato concluído.

Por isso, quando me perguntam se sou o poeta Ferreira Gullar, eu respondo: ‘Às vezes’.

“Sou um poeta que lida com as palavras corriqueiras desse dia-a-dia.
Sei que essas palavras estão impregnadas de vida e de experiências, de um calor que vem da boca das pessoas. E se eu não elaboro todo esse material, não estarei fazendo a poesia tal como a entendo.
Logo, poesia não é improviso, mas algo de muito mais complexo."

“Todo poema que escrevo é, no fundo, uma ampliação de minha própria maneira de me expressar, de modo que, ao iniciar qualquer poema, não sei bem onde vou terminar.”

“A verdade é que nem todo poema nasce da mesma maneira.
Então, às vezes, ele surge pronto, às vezes não.
Agora, de um modo geral, o fundamental para mim é o grau de intensidade psicológica que eu alcanço quando estou escrevendo. Já o disse aqui metaforicamente: é preciso atingir a temperatura em que todos os metais se fundem, porque, se estou no nível da prosa, o poema não alça vôo. É necessário que eu alcance um grau de consciência distinto do que normalmente tenho. Essa é, aliás, uma das razões pelas quais escrevo pouco. E aqui não importa se você domina a técnica ou tem a sabedoria para controlar a palavra.”

“Drummond, por exemplo, pagou seu primeiro livro. Até Sentimento do Mundo (1940), foi ele quem pagou as edições. 
Manuel Bandeira publicou Lira dos Cinquenta Anos (1940) com dinheiro dos amigos. 
Sempre foi assim a dificuldade para se publicar. 
Hoje pode até ser mais difícil do ponto de vista de editoras, mas tem a Internet, que possibilita que os poetas divulguem seus poemas com muito mais facilidade do que antigamente.”


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