photo Gilson Camargo
“Eu não posso decidir escrever um poema hoje à tarde.
Não
vai acontecer.
O poema, pelo menos no meu caso, nasce de um espanto, de uma
descoberta inesperada. Às vezes, fico um ano inteiro sem escrever sequer um
poema. Então, preciso dar tempo ao tempo até ter certeza de que o livro já tem
um número suficiente de poemas ou de que o que ele expressa está de fato
concluído.
Por isso, quando me perguntam se sou o poeta Ferreira
Gullar, eu respondo: ‘Às vezes’.
“Sou um poeta que lida com as palavras corriqueiras desse
dia-a-dia.
Sei que essas palavras estão impregnadas de vida e de
experiências, de um calor que vem da boca das pessoas. E se eu não elaboro todo
esse material, não estarei fazendo a poesia tal como a entendo.
Logo, poesia não é improviso, mas algo de muito mais
complexo."
“Todo poema que escrevo é, no fundo, uma ampliação de minha
própria maneira de me expressar, de modo que, ao iniciar qualquer poema, não
sei bem onde vou terminar.”
“A verdade é que nem todo poema nasce da mesma maneira.
Então, às vezes, ele surge pronto, às vezes não.
Agora, de um modo geral, o fundamental para mim é o grau de
intensidade psicológica que eu alcanço quando estou escrevendo. Já o disse aqui
metaforicamente: é preciso atingir a temperatura em que todos os metais se
fundem, porque, se estou no nível da prosa, o poema não alça vôo. É necessário
que eu alcance um grau de consciência distinto do que normalmente tenho. Essa
é, aliás, uma das razões pelas quais escrevo pouco. E aqui não importa se você
domina a técnica ou tem a sabedoria para controlar a palavra.”
“Drummond, por exemplo, pagou seu primeiro livro. Até
Sentimento do Mundo (1940), foi ele quem pagou as edições.
Manuel Bandeira
publicou Lira dos Cinquenta Anos (1940) com dinheiro dos amigos.
Sempre foi
assim a dificuldade para se publicar.
Hoje pode até ser mais difícil do ponto
de vista de editoras, mas tem a Internet, que possibilita que os poetas
divulguem seus poemas com muito mais facilidade do que antigamente.”
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