“Que conselho o
senhor daria a alguém que pretende dedicar a vida à literatura como escritor?
Qual a importância das oficinas e cursos que buscam a formação de escritores?
Que leia e escreva muito.
Que leia e escreva muito.
Que se pergunte se possui duende, como na teoria de
Garcia Lorca, e se tem mesmo boas histórias para contar e questões relevantes a
tratar.
Eu nunca freqüentei uma oficina que orientasse a escrever.
De repente
me descobri escrevendo.
Igualmente a Tomaso de Lampedusa, questionei tanto a
necessidade de publicar o que eu escrevia que, embora trabalhasse com
disciplina e afinco, numa verdadeira ascese, vivendo a literatura todo o tempo
de minha vida, só me dispus a publicar bem tarde.
Meu primeiro conto, Lua
Cambará, de 1970, saiu no livro Faca, da Cosac Naify, em 2003.
É verdade
que nesse intervalo escrevi muitas outras coisas e nunca parei de trabalhar no
texto. Uma obsessão, um sofrimento.
Existe uma anedota que Fellini escreveu
sobre ele mesmo no seu livro de memórias, ilustrando como se tornou um
cineasta.
Ele era ajudante de Roberto Rossellini e um dia seu mestre faltou ao
set de filmagens. Disseram que Fellini teria de substituí-lo e ele se perguntou
como é que se dirigia um filme.
Logo mais estava com o megafone na mão, dando
berros e ordens. Desse modo ele virou diretor de cinema.
É de um modo parecido
com esse que nos tornamos escritores.
É só identificar a hora certa de empunhar
o megafone.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário