segunda-feira, 23 de setembro de 2013

RONALDO CORREIA DE BRITO

“Que conselho o senhor daria a alguém que pretende dedicar a vida à literatura como escritor? Qual a importância das oficinas e cursos que buscam a formação de escritores?
Que leia e escreva muito. 
Que se pergunte se possui duende, como na teoria de Garcia Lorca, e se tem mesmo boas histórias para contar e questões relevantes a tratar. 
Eu nunca freqüentei uma oficina que orientasse a escrever. 
De repente me descobri escrevendo. 
Igualmente a Tomaso de Lampedusa, questionei tanto a necessidade de publicar o que eu escrevia que, embora trabalhasse com disciplina e afinco, numa verdadeira ascese, vivendo a literatura todo o tempo de minha vida, só me dispus a publicar bem tarde. 
Meu primeiro conto, Lua Cambará, de 1970, saiu no livro Faca, da Cosac Naify, em 2003. 
É verdade que nesse intervalo escrevi muitas outras coisas e nunca parei de trabalhar no texto. Uma obsessão, um sofrimento. 
Existe uma anedota que Fellini escreveu sobre ele mesmo no seu livro de memórias, ilustrando como se tornou um cineasta. 
Ele era ajudante de Roberto Rossellini e um dia seu mestre faltou ao set de filmagens. Disseram que Fellini teria de substituí-lo e ele se perguntou como é que se dirigia um filme. 
Logo mais estava com o megafone na mão, dando berros e ordens. Desse modo ele virou diretor de cinema. 
É de um modo parecido com esse que nos tornamos escritores. 
É só identificar a hora certa de empunhar o megafone.”

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