“Já tentei estabelecer uma rotina para escrever, mas não deu
certo, pois não tenho disciplina.
Como nunca entendi o ato de escrever como
trabalho, não me sinto responsável para cumprir horários e metas. Por isso, às
vezes passo um mês sem escrever, o que, contraditoriamente, me enche de culpa.
Então corro até o computador e procuro me redimir teclando algumas linhas ou
páginas.
Às vezes interrompo a escritura para ler um parágrafo de Clarice
Lispector ou de Guimarães Rosa, é uma necessidade de me iluminar.
Gosto de
escrever em computador com internet, pois quando tenho alguma dúvida, mesmo em
relação a um vocábulo, faço a pesquisa imediatamente.”
“Às vezes o que me obriga a escrever é a sensação de culpa
por estar há muito tempo sem escrever, outras vezes escrevo porque preciso logo
traduzir uma sensação em palavras para de algum modo represá-la, pois tenho
medo de perdê-la para sempre. Em geral escrevo porque tenho prazer no ato.”
“Sempre acreditei em “Nihonjin”, por isso o enviei somente
para grandes editoras, pois sei que as pequenas têm dificuldades em dar
visibilidade às obras que publicam. O romance foi rejeitado por todas, e também
não ganhou o Prêmio Sesc de Literatura, do qual participei.”
“Tenho várias fontes inspiradoras. A inspiração vem de uma
música, de uma cena de rua, de uma lembrança, de uma leitura. A vida é uma
grande fonte inspiradora.”
“Espero não ter o destino de Raduan Nassar, que, realmente,
não escreveu nada de interessante após o belíssimo “Lavoura arcaica”.
Há pouco
tempo o Paulo Lins justificou os quinze anos que separam “Cidade de Deus” e
“Desde que o samba é samba”, lançado este ano, dizendo que o seu primeiro
romance lhe custou tanto tempo e causou tanta tensão e desequilíbrio emocional
que ele precisava descansar.
“Nihonjin” não me cansou e não me desequilibrou
emocionalmente, pelo contrário, me estimulou a escrever mais.
Espero não entrar
na paranoia de ter a responsabilidade de escrever algo melhor que “Nihonjin”.”
* 1º Prêmio Benvirá de Literatura, Prêmio Jabuti 2012,
categoria de ficção: “Nihonjin” .
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