quinta-feira, 24 de novembro de 2011

JOSE CASTELLO


De onde vem essa voz que nos põe a escrever? 

(...) Quando escreve, o escritor se conecta (está bem, eu aceito: ele inspira) uma voz que vem de muito longe, uma voz vinda de outro lugar. (...)

Sei que é uma voz que atordoa, e não foi por outro motivo que Virginia Woolf se suicidou, que Hilta Hilst bebeu mais do que devia, que Marcel Proust sufocava em sua asma, que Orides Fontela "enlouqueceu", que Pessoa foi tragado pelas próprias palavras. Não é fácil, é enervante.

Escritores têm os ouvidos perfurados por essa voz que os invade, os coloca em transe, que não sossega. (...)

Sim, enquanto escreve, o escritor está alterado _ como dizemos daqueles que bebem demais, ou se entopem de psicotrópicos, ou estão fora de si por causa de uma paixão, ou de um luto. Essa alteração é o estado ideal da escrita.
Ouso usar uma palavra, carregada de misticismo e de comprometimentos: trata-se de um transe.
Há, sim, um transe no momento da escrita.
Não porque espíritos se apossem do corpo de quem escreve. Não porque ele esteja "fora de si". Ao contrário, enquanto escreve o escritor está dentro de si. Para escrever, é preciso "cair em si".
É nessa queda que se ouve algo diferente.
É dela que o escritor retira o inesperado.

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